
O Departamento e o Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP comunicam, com pesar, o falecimento de Sergio Miceli, ocorrido em 12 de dezembro de 2025.
Sergio Miceli Pessoa de Barros (1945-2025) reforçava sua ascendência calabresa assinando com o sobrenome italiano. Nascido e criado no Rio de Janeiro, veio para São Paulo querendo se pós-graduar na linha de Florestan Fernandes, mas logo imprimiu sua marca muito própria e única, mestrando-se com o trabalho inaugural acerca da “Noite da madrinha”, que desde então alimenta gerações de sociólogas e sociólogos interessados nos fenômenos e nas dinâmicas culturais.
Sociólogo inquieto e incansável, apaixonado e brilhante, publicou muitos livros, ensinou e orientou por muitos anos, de sorte que sua presença fica viva em todos os que o leram e ouviram, e continuarão lendo e vendo e ouvindo (há vários vídeos no Youtube, assim como vários livros nas prateleiras).
Sua inquietude o levou a procurar Pierre Bourdieu quando este ainda era bem desconhecido por aqui, e logo o traduziu e editou. Embora seja o seu mestre, Sergio pensava por si mesmo, não por impertinência ou arrogância, mas em virtude de uma visceral inquietude intelectual.
Resultado de sua estadia com Bourdieu foi seu doutoramento sobre a elite intelectual, decerto o seu livro mais lido e referido. Entretanto, Sergio escreveu sobre muitos temas, coordenou muitos projetos de pesquisa, muitos grupos de pesquisadoras/es, e sua vivacidade contaminou — e, creio, continuará contaminando — muitas pessoas.
Sua liderança institucional fez-se sentir na FGV, no Idesp, na Unicamp, na USP, na Anpocs, na EDUSP, na editora Perspectiva, na revista Tempo Social, e em várias outras instituições. Seu impacto se fez sentir também fora do Brasil, em suas temporadas na Argentina, na França e nos EUA.
Mas, se exerceu cargos, não foi jamais como um burocrata ou mero organizador e gestor, mas como atiçador, verdadeiro agente provocador.
Fã de ópera, leitor voraz, gostava de uma série televisiva e de um bom filme, e não deixava de lado o teatro. O que via e ouvia era assunto para conversa e matéria para reflexão.
Em qualquer situação, quem estava ao seu lado saia mais inteligente do que quando chegou. Assim foi e assim continuará sendo.
Texto por Leopoldo Waizbort